CALORÃO

Do calor, emnações

CALORÃO

     Faz muito calor e Cacá – A Caboclinha de Camanducaia diz que tanto calor assim é bom porque o transpirar do corpo equivale à transpiração de ideias e ações. Em outras palavras, no calor trocamos mais energia, fazemos mais contato com outros seres, ganhamos em informação.

    Mesmo que o calor inspire certo desânimo, nele a presença do que nos arrebata, ou faz com que saiamos de nós mesmos. Cacá observa que quando nos predispomos a agir, ainda que por força de algum incômodo, o que na realidade fazemos é partir para a busca de algo que pretendemos. Um copo d’água pra matar a sede já é motivo para que nos desloquemos de onde estamos para o encontro do que almejamos.

     Cacá valoriza o calor exatamente porque é por meio dele que saimos da frieza de atitudes que transitam por aí sem nenhuma contribuição eficaz para que sejamos mais para nós mesmos e para esse mundo que vivemos nele.

Belo Horizonte, 31 outubro 2012

O PERSEGUIDO

     Ronaldinho queria aquele gol, porque precisava daquele gol. Por um instante, tudo parecia confuso. A euforia do adversário insistia em não assimilar o rigor da derrota. As bolas na trave renunciavam a insistência da vontade. Até que veio o gol.

     Ronaldinho na dimensão do artilheiro, trazia consigo a felicidade de um encontro tão perseguido. O gol estava ali realizado, concluído, conquistado.

     Da transpiração, o sentimento vivo do alívio respirado pelo coração. Ronaldinho veio livre de todos os pesos, solto, veloz, atento e convicto.

     O Chile já não tinha mais o que fazer. Quatro a um para o Brasil.

Belo Horizonte, 03  julho 1998