PACTO DE SANGUE

SÉRIE XAMÃ

dos Folhetos Cadinho RoCo

PACTO DE SANGUE

     Ao que parece Xamã quer fazer comigo um pacto de sangue.

     Na realidade fui eu que puxei a mão inadvertidamente da boca dele. Dentes estão mais afiados do que pensei, até porque crescem rápido. Daí veio o arranhão, que não chegou a constituir corte, mas que fez brotar sangue.

     Xamã totalmente sem graça encosta focinho no chão colocando-se submisso. Sugere que façamos pacto de sangue. Aceito sem, no entanto, necessitar do sangue dele em exposição.

     Acaricio o animal isentando-o de qualquer sentimento de culpa.

Belo Horizonte, 02 fevereiro 2014

ÚLTIMO RECURSO

     Não há outra solução. Rezar para que a resistência do viver continue resistindo. Rezar para que de cada notícia haja ainda que minúsculo acesso para alternativa qualquer. Rezar para que do desalento haja possibilidade de sobrevivência da esperança. Rezar para que a força do estar não seja rendida pela fraqueza senhora de tantas ilusões. Rezar para que o mundo não fique restrito às suas tantas impossibilidades. Rezar para que a consciência permaneça firme e atenta ao vagar dos sentidos. Rezar para que as tantas recusas não sejam aceitas pelo estímulo ao abatimento. Rezar para que a leviandade não prolifere. Rezar para que a compreensão esteja acima de toda e qualquer mediocridade. Rezar pela integridade da vida. Rezar pelo perdão de tudo aquilo que em nós denuncia culpa.

     Não há outra solução.

Belo Horizonte, 27 maio 2004