SINCERIDADE

SÉRIE XAMÃ dos

FOLHETOS CADINHO ROCO

SINCERIDADE

     Este hábito de se mostrar sempre muito ocupado não é lá dos mais simpáticos e nem tão pouco prova de eficácia. Na crueza da realidade, quem de fato se torna inacessível age assim por pura e simples opção.

     Quem sabe o que quer não se coloca de maneira distante frente ao que de fato se propõe a fazer. No entanto, por força da vaidade, ou até mesmo da mais simples necessidade de afirmação, há quem use o tempo, ou a falta dele, para demonstrar, sei lá, espécie de competência artificial.

     No mar os caminhos se confundem pela ausência de referências. Em nós as atitudes se perdem pela ausência de compromisso para com nosso próprio agir.

     Xamã entende haver na sinceridade transparência capaz de mostrar tudo que de fato habita em nosso querer.

Belo Horizonte, 09 fevereiro 2015

CASO DA VALÉRIA

     Se foi a Valéria quem contou, não há dúvida.

     A Valéria não mente nunca.

     Velório naquela pacata cidadezinha. Já à beira do túmulo familiares abrem o caixão para despedida derradeira. Próximo ao esquife coveiro espera paciente com sua pá companheira de tanto tempo. Pensa na aposentadoria que virá daqui a poucos meses.

     De repente, o inusitado. O homem defunto abre os olhos, estende os braços e tenta levantar-se do caixão. Coveiro reage sem pestanejar. Ergue a pá e num golpe certeiro e fatal atinge a testa daquele sei lá quem matando em definitivo o morto e esbravejando:

     - Fique quieto aí no seu lugar porque não será você agora que irá estragar minha aposentadoria atrapalhando meu serviço.

     Disse e repito. Se foi a Valéria quem contou, não há dúvida.

     A Valéria não mente nunca.

Belo Horizonte, 08 outubro 2006