VISAGENS

A cultura popular é dependente direta de quem faz com que ela sobreviva

VISAGENS

Sereias que cantam ao ritmo do mar. Vozes de ternura sem igual, sensuais.

Naquele pedaço de praia em Curumuxatiba, não foi nem uma, nem duas das várias vezes em que elas, as sereias, surgiram melodiosas. Lá é lugar de muita visagem, garante Juninho que já viu por demais do que não queria ver. É caso após outro na noite em que da praia brota mistério.

É Bahia de magia sem fim no dizer do Juninho que sereia nunca viu não. Só ouviu uma vez sussurro mais tarde conferido por outra de suas visagens. E o moço avança no assunto, empolga e já na mata dos fenômenos descreve detalha mulher em busca de criança, tudo visagem em noite solta na lembrança.

Cumuruxatiba, 29 abril 2008

DIÁLOGO MARÍTIMO

Assunto é o que não falta. No entanto, a intolerância parece falar mais alto. Sem querer ficar exposto aos vivos termos do que parece exalar enorme futilidade, esquivo-me para o mar. Desapareço no horizonte da água, dia que vai embora.

Perspectiva é o que não falta. O espaço, de tão vasto, emana beleza. Tempo passando pelo movimento da água, cuja mansidão inspira a alma.

Do cotidiano das obrigações, crio distância. O que antes parecia interessante, desaparece no vagar do tempo. Hoje vou embora para o mar, ondas do meu pensar.

Dou vento às ilusões que escancaram as rotas deste veleiro solto no mundo.

Assunto é o que não falta. Resolvo então conversar com o mar.

Belo Horizonte, 27 abril 1998