SÓ PRA COMPLICAR

Se não é assim que se vive, vive-se assim
SÓ PARA COMPLICAR

Faz calor na flor da primavera que chega.
Faz jeito saboroso no brotar do outono que aparece porque se aqui é de um jeito, lá é de outro jeito. Mas tudo num mesmo mundo em que as estações chegam aos pares. É frio calor, fruto e flor. Combinação que vem de longe e que se quiser pode implicar vontade do saber.
Vem o outro e pergunta como é que pode? Aí é explicação de muita ciência estudo lá de onde vem o frio e o calor, ou de onde brota o fruto e a flor. Só que é da flor que vem o fruto. Agora se é do calor que vem o frio, até penso que sim, mas sei não. Só sei que a vida é quente e a morte fria, tal como mostra corpo da gente. Então nesse caso, calor tem que nascer para depois deixar que o frio venha. Mas e se for o contrário?
Fato é que na vida, tal como mostra essa conversa levada a nada, é muito mais fácil complicar do que simplificar.

Belo Horizonte, 23 setembro 2008

TARDE

Tenho a tarde toda para fazer nada. Tenho o peso de um sono capaz de sombrear toda a tarde.
Tenho a tarde toda para conviver com essa ânsia solitária a invadir noite e madrugada amanhecendo acordada pela sensação de não ter dormido. Tudo devidamente sublinhado por evidentes contradições tão confusas quanto indecifráveis.
Tenho a tarde toda do telefone silenciado e das horas que parecem adiantar algum atraso. Conversas servidas para nada, trabalho com valor nenhum, falta de dinheiro. Todas as necessidades canceladas. Todas as possibilidades recusadas por exigência do impossível.
Tenho a tarde toda para digerir o que digere meu ser.
Tenho a tarde, sem te-la.

Belo Horizonte, 14 fevereiro 2001