É SEMPRE ASSIM

O negócio é levar a vida sem exagerar no rigor
É SEMPRE ASSIM

Existem situações de fato engraçadas. Vez por outra encontro com alguém que quer saber por quê sumi. Em muitos casos a vontade é a de simplesmente dizer que sumi porque cansei de aparecer. E se disser isso não estarei mentindo.
Só que desapareço tanto quanto sei das tantas quantas vezes em que apareci por acreditar em conversa levada a nada lugar nenhum. Em outro sentido, desapareço porque não posso passar a vida só por aparições totalmente inúteis.
Mas perguntam isso quase que para afirmar que se eu tivesse aparecido, teria acontecido mundo de coisas. Mentira pura mentira porque entendo ser dispensável que antes este alguém apareça.
Quer entender melhor como é? Pois digo sem a menor dúvida que se amanhã eu parar de pintar as camisetas é certo que esbarrarei com quem lamentará isso porque tinha toda intenção de adquirir uma, muitas, coleção inteira de camisetas pintadas por mim. È sempre assim.

Belo Horizonte, 29 setembro 2008

PARO DE PENSAR

Ao percebe-la desaparecida do meu mundo, tento também desaparecer. Saio por aí, na sonolência de acontecimento nenhum. Tudo tão igual e tão sem estímulo, que chego mesmo a estranhar a razão da tarde.
Fico em casa, perdido entre paredes permitidas a vagaroso envelhecimento. Tudo envelhece. O mundo envelhece, o dia envelhece, a tarde envelhece e a noite também.
Paro de pensar nisso e naquilo. Paro de pensar em tudo. Só não paro mesmo, é de senti-la tão próxima do meu pensar e tão distante do meu viver.
Envelheço.

Belo Horizonte, 23 março 2001