PROCEDIMENTOS

Se nem tudo que escrevo é compreendido, nem tudo que penso é bem pensado
PROCEDIMENTOS

Por um instante penso no que penso porque por um instante sou surpreendido pelo suceder exato do que penso. E nem sempre quero que aconteça o que penso.
Não tenho e nem quero ter poder sobre o futuro projetado por quem insiste em querer doma-lo. Não é nada disso. O que percebo é diferente e vai de encontro ao pensar que sem qualquer mistério é capaz de influir sobre o suceder das coisas. É um jeito de sentir e concluir que aquilo vai dar naquilo porque a evidência surge limpa clara demais.
Não vou aqui abrir assunto em questão íntima e que só a mim interessa. Mas que chega a espantar não negarei nem omitirei. É que ao pensar termino por projetar e ao projetar inicio procedimento que chega depois a surpreender. E nem acredito que isso seja privilégio meu, muito antes pelo contrário. Concluo é que por muitas vezes pensamos por pensar e por isso contribuímos para acontecimentos que nem eram aqueles que queríamos encontrar.

Belo Horizonte, 10 outubro 2008

PÉ DE COUVE

Sinto que sinto alguma coisa. Loucura qualquer, sem qualquer referência. Um sentimento que amanhece passando pela manhã do tempo, com tempo para ser tempo. Aí faço hora com a hora que passa por mim, sem nada dizer.
Percebo que percebo algo que tem algo a dizer. Digo a mim mesmo, que nada direi. Dou voltas em círculo imaginário, imaginando um centro. Aqui estou tão lembrado quanto esquecido. Ainda assim, existo em meio aos delírios que fazem o viver delirar.
Visto como louco, observo a louca visão do meu ser, pé de couve vestido de folhas. Ao papel palavras que semeiam a leitura da horta tão silenciosa. Plantado aqui, cultivo o saber de ser couve, caule e folhas feitas em alimento.

Santa Luzia, 09 junho 2001