PALAVRA E PINTURA

Entrei em transe
PALAVRA E PINTURA

Depois que fiz criei desenho que nem sei se chega a ser desenho pintura na camiseta, a surpresa.
Do tecido aqueles traços saltaram bem diante dos meus olhos assumiram movimento e voz, era voz, sei que era uma voz em bom português, palavras bem pronunciadas, calmas amistosas, num estado profundo de paz.
Chamou por mim cumprimentou acariciou ponderou suavizou tudo, pediu com autoridade, sem menor traço de rispidez. Convocou meu ser para o amor, para que da nudez do amor a pintura desenho camiseta conjunto inteiro deste meu feito possa vestir de ternura quem sentir toque desta entrega. Muito mais solene que qualquer venda é o desvendar de troca tão sublime.
Chorei ri perdi dor e cabeça, morri nasci na pintura desenho tinta cor, na ida do que transformou dedos em pincel caneta caligrafia traço.
Emocionei e por isso tremi sem temer este corpo meu seu que vem dar ao que fiz faço em palavra e pintura.

Belo Horizonte, 13 novembro 2008

TUDO AZUL

Não é porque estou em dia tão ensolarado que estou no mar.
O carro e o mar. Na relação existente entre o carro e o mar, a cor azul-marinho a mergulhar em meus olhos salgados por tantas evidências narradas pela ilusão. Lá do horizonte um navio de aparência tão minúscula. A grandeza da distância diminuindo as formas, amplia outros sentidos disformes.
Não é porque estou no carnaval que irei tirar a fantasia. Assim deparo com a revelação trazida pelo vento. Do reflexo abstrato, a reflexão do concreto. Por mais valioso, sedutor, imponente, potente e espetacular que seja o carro, está ele incapaz de chegar ao incomensurável valor existente em cada passo que dou, em cada perna minha.
Não é porque estou só que estou silencioso. Assim percebo existirem pelo menos dois comportamentos adotados pelas palavras tão silenciosas quanto sonoras.
Quando não estou nu, estou vestido.

Belo Horizonte, 12 fevereiro 2002