BENDITA ESCADA

O texto Ovelha Branca foi extraído do Folheto Cadinho Roco com mesmo título e que refere-se a uma série em que surgem folhetos com ovelhas de várias cores
BENDITA ESCADA

Agora sim, posso dizer que tenho uma escada. Andei, conversei, conheci modelos e ofertas e foi numa escada de alumínio com seis degraus é que encontrei decisão. E por onde passei posso afirmar que não é fácil encontrar uma escada de seis degraus. Também não sei explicar isso.
Pode parecer tolice ou fixação, mas quando você desperta para o quanto é útil a escada, o jeito é tratar de obter uma. Cansei de improvisar degraus. Cansei de subir em cadeiras, bancos, livros e até de buscar apoio em algum lugar para, na ponta dos pés tentar alcançar uma lâmpada ou aquela valise escondida no fundo da prateleira mais alta do armário embutido até o teto. Agora não. Só preciso empunhar com orgulho minha escada e sem qualquer dificuldade, ou impaciência, subir com todo empenho e certo de que chegarei lá onde quero chegar. O que traz a maravilhosa e majestosa sensação de que posso alcançar, sem esforço, aquela lâmpada queimada. Tudo por causa desta bendita escada.

Belo Horizonte, 06 dezembro 2008

OVELHA BRANCA

Momento de cada momento. Passo de cada passo. Palavra de cada palavra.
Silencio.
Na voz, canto. Na música, doce. No doce, presença. A ovelha vermelha aparece branca e distante. Próxima e afastada. Momento de observação. Passo da tarde que desperta a trilha da noite. Palavra nenhuma no céu esquecido de tantas estrelas.
A ovelha branca entoa um salmo. Espécie de entidade que abençoa a alma. Momento de intensa ternura. Passo esquecido das nuvens. Palavra secreta que mais parece reza.
A ovelha vermelha é branca agora. A lua é cheia e a noite vazia. Aparição de contrastes a trocarem o momento do passo tropeçado em palavras.
Silencio.
Na voz, mulher. Na mulher, doce. No doce, nuvem. Corpo na lã branca da ovelha que parece contar um sonho.

Belo Horizonte, 28 julho 2002