CHOVIA

Tem dia que nasce cansado
CHOVIA

Acordei com vontade de dormir. O dia surgiu manhoso sombrio chuvoso e no jeito para sono solto em sonho gostoso. Tentei adivinhar hora mas depois fiquei intrigado com existência dela. Minha linha de pensamento na sugestão do sono insistia em afirmar ser mentira eu acordado. Mas sei distinguir isso com relativa facilidade. Eu estava acordado, não havia dúvida. Virei o corpo de lado a outro para mostrar provar estado acordado. Para meu desalento confirmei que já não mais dormia. Por isso mesmo levantei sem esconder contrariedade. Bocejei para o que impunha o dia e arrastei passos até o banheiro. Olhei para o espelho, lavei o rosto e diante de mim mesmo ouvia aquele ruído familiar. Chovia.

Belo Horizonte, 14 dezembro 2008

HELENA JANUÁRIA

Helena é uma jovem senhora que durante mais de cinqüenta anos serviu à família Narciso Almeida Santos e por essas últimas décadas atuou como legítima dama de companhia, até os últimos dias da então viuva Tia Natália. Um exemplo vivo de dedicação, resignação e amor ao próximo. Um testemunho claro de reconhecimento a quem dedicou-lhe atenção, paciência e carinho. O que não quer dizer que a nossa Helena seja a pura essência da humildade e do despojamento. Ao contrário. Nela, a presença da vaidade e de algumas ambições a buscarem aquele conforto tão bem entendido por ela.
Helena tem temperamento forte. E da saudade inserida à sua vida, a companhia de dois canários que cantam e brincam com ela que diz ser plenamente entendida por eles. Para completar, sua denúncia à enorme afeição pelos santos. Da Virgem Maria a Iemanjá, de São Jorge a Jesus Cristo, sem esquecer do Buda.
Enquanto filha de Deus, Helena vem lá da Januária desse Rio São Francisco tão mineiro quanto ela.

Belo Horizonte, 18 setembro 2002