SEM CONSTRANGIMENTO

No texto Sem Hipocrisia o relato de momento que passei e que não poupou rigor ao meu viver. Superei, sem parar de fazer o que faço. São dessas ocasiões que tiramos a certeza do que somos
SEM CONSTRANGIMENTO

Percebo que estou entre compras e ofertas. Quando não compro ofereço, ou tento, porque da oferta pra vender é preciso conversa e muita conversa.
Há quem veja o mundo como um monte de produtos e não mais que produtos. O que para mim é lastimável. Não consigo enxergar alguém transformado em produto. Mas não é que muita gente consegue agir assim e, por consequência, colocar-se também como tal? Inacreditável. Mas dizem que é assim que funciona hoje. Mas funciona o quê? Melhor esquecer porque se tem o que não quero fazer, é complicar.
Saio então pelas ruas para não comprar nada e nada ofertar. Saio por sair com o cão Jota, que é ser de sabedoria espantosa na arte do desprendimento. Mesmo encoleirado comporta-se entregue ao seu mais livre farejar sem qualquer propósito de compra. Não pede nada, absolutamente nada. Já com relação à oferta o mesmo não posso dizer, posto que basta surgir uma cadelinha assim mais ou menos para que o bicho se ofereça sem o menor constrangimento.

Belo Horizonte, 10 dezembro 2008

SEM HIPOCRISIA

Eu não deveria estar com tanto sono assim. Mas o sono parece estar em mim, impondo cansaço que sinto artificial.
Vontade de ver os dias passados. Vontade nenhuma de vê-los passando, quando percebo toda minha impossibilidade de participar deles.
Não sei o que acontece.
Não sei o que acontecerá.
Sinto sono e uma vontade enorme de fazer o que não posso fazer. Coisas simples, mas que exigem o pouco dinheiro que não tenho. Fumar um cigarro, imprimir meus folhetos e distribui-los sem preocupação. Tomar uma cerveja à minha custa. Dar esmola, poder ajudar ao próximo.
Não posso nada agora. Rezo e peço a Deus que dê força e compreensão ao meu espirito. E que meu ser possa evitar sempre a hipocrisia dos que muito falam e nada fazem.

Belo Horizonte, 06 agosto 2002