CIRURGIA ADIADA

Na orla do amor somos mais

CIRURGIA ADIADA

O único feito que de fato nos dignifica e enaltece o nosso ser é o feito do amor.

Agir pela simples eficácia ou para simplesmente ser produtivo e poderoso ou competente é agir pela vaidade que traduz muito mais ilusão que verdade.

Da cirurgia marcada o adiamento. Não tive ainda nenhum dos meus olhos operados por força da necessidade dos exames a avaliarem com mais precisão o tão famoso risco cirúrgico ao qual ficarei exposto. Nada que a mim inspire desânimo, apreensão, medo ou aflição.

A única maneira de darmos vigor, força e sentido pleno à vida, é o que nos remete ao amor capaz de em nós promover a paz e a compreensão do que faz ser o dia de cada dia.

Belo Horizonte, 15 julho 2010

BANHO FRIO

O chuveiro resolveu ignorar a eletricidade. Sem causa aparente, não esquenta mais a água. Talvez tenha queimado, deixando a água passar para o banho que pretendo tomar neste final de tarde que sopra um vento frio para a noite que vem vindo.

Tento em vão ativar o chuveiro alheio ao meu propósito. Observo a situação respirando ânimo para a entrega do corpo quente à água fria. Espécie de choque. A respiração se atrapalha. O reflexo foge. Mas no escuro dos olhos fechados, a decisão. O sabonete passa pelo corpo. O esfregar serve mais como consolo do que solução. A respiração treme. A água passando pelas costas, parece lâmina cortando a carne. Ainda assim, a cabeça sente a espuma fria que aos poucos vai se desfazendo.

O chuveiro não sente a ausência da temperatura, não arrepia, nem se incomoda com a respiração atrapalhada. Quanto a mim, mais um desafio a ser enfrentado. Não tenho como consertar, nem adquirir outro chuveiro. Mas tenho como suportar o banho frio.

Belo Horizonte, 26 agosto 2002