CONSTATAÇÃO SINGULAR
Série Cadinho de
Prosa dos Folhetos Cadinho RoCo
CONSTATAÇÃO SINGULAR
Estou cada vez mais
voltado ao prosear com os santos do que com pessoas que, na realidade, nem
tenho tido maior convívio. É o que digo a João da Barra que se delicia com o
doce de cidra em calda enquanto ouve meu relato.
Mas, para João da Barra
essa minha observação chega a ser natural, porque quando comercializo doces em
calda também exercito meu espírito de fé a induzir o pensar a questões idas além-evidências
do cotidiano. Ainda mais agora, quando manifestações anônimas passam a merecer
crédito meramente estético, posto não haver como legitimar um ato anônimo, por
simples falta de representação.
A propósito, como
acreditar numa ação sem identidade?
Belo Horizonte, 25
junho 2013
CONSULTÓRIO SENTIMENTAL
Na
praia, o consultório sentimental. Ela aparece desolada.
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Já pensei em tudo e não consigo entender. Estou indo contra todos meus
princípios e convicções. Ele é carinhoso, companheiro, amigo e dedicado. Um
amigo, não passa de um amigo dez e poucos anos mais novo que eu. Uma criança
linda e alegre que não pode passar de um amigo. Já pensei muito e não tenho
como aceitar nenhum outro envolvimento. Mas sei estar evitando o que penso que
poderá ser o inevitável. Por isso mesmo é que não tenho pensado em outra coisa.
O que fazer?
Um
amigo que não passa de um amigo, no mais das vezes é um amigo e pronto. O que
não parece ser o caso. Uma vez entregue ao agir do pensar, você passa a
confundir tudo. Não será melhor pensar em agir? Ao invés da diferença das
idades, não será melhor encarar a semelhança das afinidades? Depois, é só
afinar o desejo e viver a música do amor.
Belo Horizonte, 10 fevereiro 2001
Um comentário:
As manifestações não são exatamente anônimas, Cadinho. São coletivas. Abraço!
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