ANTÚRIO
ANTÚRIO
Observo o antúrio
Em sua natural
imponência
Instante que desfio
Da minha própria
ausência.
Indago do frio
O que sugere tanta
teimosia
Chegando à beira do
delírio
Em insinuação mais
que vazia.
Antúrio mostrando
E escondendo sua
flor
Confusão apontando
Para o engano em
supor
No que reage
pensando
Estar a flor naquela
cor.
Belo Horizonte, 15
agosto 2018
DEPOIS DA COMUNHÃO
Igreja lotada.
Tão logo padre terminou o sermão ela
começou a inquietar-se.
Menina de seis ou sete anos talvez.
Abaixou-se logo atrás de mim. Cochichou no ouvido da mãe, o que não ouvi.
Voltou a abaixar quando todos se ajoelhavam.
Assim foi abaixando, levantando e
cochichando.
Passada a comunhão veio estar próxima de
mim. Abaixou quase deitou no chão. Olhei-a riso de compreensão.
Eu havia acabado de comungar.
Ela aproximou-se e disse para mim: - Tem
uma barata ali..
Mas a senhora ao lado ouviu e tudo
aconteceu numa sequência instantânea, cadenciada, como passada por ensaio.
Padre pede que todos se levantem, senhora
ao ouvir a menina solta grito de espanto agudíssimo: - Oh!
Quando percebo estão todos aqueles pares de
olhos apontados para mim, indignados. Maior surpresa foi perceber aquela
senhora de inacreditável cinismo com seus olhos de censura estatelados fixados
em mim, como tivesse eu dado-lhe um beliscão ou algo parecido.
Eu havia acabado de comungar.
Belo Horizonte, 09 Dezembro 2006
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