AMULETO
AMULETO
Três semanas para pescar um peixe que
simplesmente sequer beliscava a isca. O pescador já quase entregue ao seu
desalento conversa com um daqueles aldeões que, meio ressabiado, diz conhecer
um velho benzedor muito forte e capaz de mudar a ordem dos acontecimentos.
Pescador aceita a sugestão, velho aparece
saindo do seu casebre sem dizer nada. Acende pequena fogueira no chão e na
frente de todo mundo faz uma mistura de ervas que depois de cozidas mostram
espécie de melado. Velho aperta aquela massa quente que depois de esfriada
apresenta-se como um amuleto. Recomenda ao pescador levar consigo aquela
pequena peça, ir na direção tal e lançar o anzol na água.
Dia e hora tudo pronto, amuleto no bolso,
anzol na água e eis que surge um puxão.
Depois de quase uma hora eis que aparece
o peixe, uns trinta quilos, exatamente aquele que o pescador tentava pescar a
três semanas.
O pescador olhou para o peixe, do bolso
tirou o amuleto mostrando-se fisgado pelo acreditar.
Belo Horizonte, 14 outubro
2020
PESADELO
O pesadelo não dorme e nem
deixa a gente dormir. Presença mais que irritante parece ter prazer em ficar
instigando o que está quieto exatamente para não atrapalhar o curso dos
acontecimentos com indesejáveis colocações. Mas aí vem o pesadelo e complica
tudo.
Tudo bem, resolvo chamar
pesadelo para conversa de entendimento, sem ressentimentos nem nada.
Ironicamente pesadelo pergunta se não está tarde demais, digo termos o resto da
noite inteira ao nosso dispor, pesadelo sugere que eu durma em paz, porque caso
perceba em mim agitação ele será forçado a interferir naqueles sonhos bobos
servidos pra nada.
Será possível entender a
linha de conduta adotada pelo pesadelo?
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