DESILUDINDO
DESILUDINDO
Hoje
resolvo pensar no que não penso, ou que não tenho pensado e que vive querendo
interferir em meu pensamento. Mas hoje deixo que o não pensado faça parte do
meu pensar abrindo assim esta perspectiva estranha ao comum dos meus dias.
A
ilusão diante da desilusão fica com singular incômodo a mostrar que sem ela, a
ilusão, o viver experimenta aridez asfixiante. Ficar só no plano da realidade
parece limitar tudo criando espécie de situação monótona e chata, rançosa.
Percebo
que pensar no que não penso é exercício mesquinho e desprovido do que venha a
oferecer realce capaz de animar a vida.
Viver
desanimado, nem pensar. Penso então em continuar pensando como tenho pensado,
acreditando que por aí sigo, senão feliz, ao menos amparado pelo sonho em
querer sempre ser feliz.
Belo Horizonte, 12 dezembro
2020
VONTADE DA SAUDADE
Saudade do que não vivi. Cheguei perto, sinto que cheguei perto. Mas,
sei lá, parece que o momento não era aquele. Pode ter sido isso.
Vontade de viver o que não vivi. Chegar lá, lugar que quero alcançar.
Encontrar, ser encontrado. Sentir que cheguei, que alcancei, que encontrei a
razão de todos os encontros brotados daí.
Saudade da realidade que não vivi. Cheguei a senti-la próxima, tão
próxima dos meus sonhos hoje despertados por tantos desvios. Mas ela está aí,
solta aos ventos que quero alcançar, respirando a essência de sua mais sedutora
fragrância.
Vontade de ser o que nunca deixei de ser. Ainda assim, deixei ir a ida
que deixou-me aqui. Mas, o lugar não é aqui. Não é daqui essa saudade, não é
daqui essa vontade.
Belo Horizonte, 15 março 1999
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