Cadinho RoCo – Jeito outro de ler e pintar a vida.

Estréia oficial do Blog – 27 novembro 2006

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

AGORA

 

AGORA

     Chegou a hora de comprar um carro novo, usado ou, usado novo. Um carro bem conservado, boa procedência, pequeno, eficaz, econômico e pronto para viajar.

     Chegou a hora de viver e averiguar os novos ares existentes pelas novas perspectivas trazidas pelo novo ano exposto a novos planos. Tudo novo no carro e na viagem tão pretendida e realçada pelo que agora busca da realidade o que é possível ser realizado.

     Chegou a hora.

Belo Horizonte, 04 janeiro 2021

VENDENDO

     Vender eu vendo. Desde quando menino conheci os segredos do balcão daquela loja mantida por meu pai e por tantos fregueses.

     Vender eu vendo. Desde quando viajava pelo interior de Minas Gerais, com tabelas de preços e argumentos que motivavam minha caligrafia aos talões de pedidos.

     Vender eu vendo. Mas o tempo passou. Dos balcões e das viagens cresci e aprendi a perceber a importância dos anúncios que fui absorvendo. Daí, minha disposição em estar hoje anunciando a venda de quem quer vender.

     Vender eu vendo. Por isso é que sinto um enorme carinho por essa tão querida freguesia que nunca abandonou esse vendedor capturado pela poesia.

Belo Horizonte, 30 agosto 1999

domingo, 3 de janeiro de 2021

POSSIBILIDADE

  POSSIBILIDADE

     Sofás, poltronas, mesas, cadeiras. Eletrodomésticos e mais miudezas diversas. Tudo poderá estar à venda por motivo de mudança. Digo poderá levando-se em conta que a dita venda aconteça sem firulas: dinheiro pra cá, mercadoria pra lá. Simples assim.

     Conversa propondo condições, prazos, mecanismos de negociação vindos dos mais criativos propósitos não se enquadra no aqui ofertado. Daí a possibilidade, ou não, de estar à venda o que poderá sim vir a ser vendido.

Belo Horizonte, 03 janeiro 2021

A VENDA

     Se você não compra, não vendo.

     Se não vendo, você não terá a venda que quer que eu faça. Se você não compra, a venda não acontece. Para que haja a venda, é preciso haver a compra. Sendo assim, a venda precisa tanto da compra, quanto a compra precisa da venda.

     Se a intenção é anunciar a venda, antes a necessidade da compra. Assim, o movimento que irá caracterizar a venda e a compra.

     Sem anunciar o propósito da venda, a compra estará indo ao encontro de quem para ela acenou. Daí, a necessidade do anúncio da venda. Se você não anuncia o desejo da venda, como irá pretender o desejo da compra? Assim, você compra o que irá vender, investindo no anúncio da venda.

     A propósito, o que quero é vender o investimento do anúncio, para que o investimento de sua compra resulte no lucro trazido pela venda.

Belo Horizonte, 21 agosto 1999

sábado, 2 de janeiro de 2021

SUTILEZA

 

SUTILEZA

     Tem mentira que não dá pra você desmascarar de um para outro ano. Ela perdura, sempre buscando achar jeito de se impor em conversas, decisões e imposições.

     Para quem cultiva a verdade não é novidade o quanto faz-se versátil a mentira em suas mais variadas formas. Mas, para quem gosta de ir na conversa do mentiroso, a mentira mostra-se não como sendo verdadeira, mas como a própria expressão da verdade. Dá pra perceber a sutileza da coisa?

Belo Horizonte, 02 janeiro 2021

LILI PIU-PIU

     Lili queria ganhar, pela passagem do seu aniversário, um Piu-Piu. Mas queria um Piu-Piu grande, o maior de todos.

     Trata-se de um pinto que não nasceu de nenhuma galinha, portanto, não saiu de nenhum ovo. Um pinto brotado da imaginação humana e transformado em boneco. Pode ser encontrado em cartões, chaveiros, gaiolas estilizadas, na forma de adornos diversos, além de uma bela variedade de bonecos de pelúcia.

     Lá fui eu, na intenção de atender ao desejo da Lili, buscar o tal Piu-Piu grande. O maior de todos.

     Além da vergonha, a sensação do ridículo. Eu, um marmanjo velho andando por aí com um Piu-Piu. Só me faltava essa. Mesmo estando o bicho embrulhado, tratei de apertar o passo, evitando encontrar alguém conhecido.

     A Lili adorou. Deu-me um abraço de criança e um beijo suave que ainda pia em meu coração

Belo Horizonte, 06 agosto 1999

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

AGRADECIMENTO

  AGRADECIMENTO

     Já no primeiro dia de 2021 compareço agradecendo pelos patrocínios espontâneos surgidos, em particular no último dia de 2020.

      O ano foi embora deixando pra mim o gesto da gratidão, porque, receber o reconhecimento de um trabalho em curso é por demais gratificante.

     Os dias continuam passando.

     Escrever é o meu viver.

    Hoje, vivo do que escrevo, daí a razão de ser do Patrocínio Espontâneo.

    No mais, feliz 2021 para todos nós sob a graça de Deus, amém.

Belo Horizonte, 01 janeiro 2021

A INVESTIGAÇÃO

     Um chope, por favor. Mais pela ansiedade do que pela sede. É que ela agora resolveu atravessar a Antártica a pé. Ela mesma, a  alpinista Helena Artmann. Não conheço a alpinista, mas o desafio desperta em mim grande curiosidade.

     Mais um chope, por favor. Nunca estive na Antártica, muito embora eu já tenha escalado alturas inteiras propostas por ela. Refiro-me às elevações trazidas pelos chopes da Antártica, tão perigosas quanto misteriosas são as daquela região gelada. Daí, minha ansiedade.

     Mais um chope, por favor. É que aquela outra mulher, após vagar e explorar os meandros do meu coração, estampou-me tamanha frieza, que ela poderá ter perfeitamente uma estreita relação com a Antártica. Razão pela qual enquanto vasculho entre um e outro chope, a alpinista Helena poderá auxiliar-me nessa incrível investigação pela Antártica. Aliás, a amada poderá, uma vez camuflada de alpinista, estar indo para um passeio a pé, pela Antártica. Pensando bem, preciso saber mais sobre essa mulher.

     Mais um chope, por favor.

Belo Horizonte, 01 agosto 1999

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

IMPLICADO

  IMPLICADO

     Não gosto da expressão último dia. Há sempre um outro dia inclusive para o último dia que, a rigor, não é o último dia de coisa nenhuma quanto ao suceder dos dias.

     Último dia da semana, do mês, do ano. Mas será que a semana, o mês ou o ano terminam mesmo no dito último dia? O iniciado antes do término da semana, mês e ano estará encarado nesse tal último dia?

      Que seja mera implicância da minha parte, mas não gosto mesmo da expressão último dia que a mim sugere espécie de morbidez quando o que quero e busco é vida, vida e mais vida.

Belo Horizonte, 31 dezembro 2020

À MARGEM DA LUZ

     Veio um sono forte, muito forte. A tarde desaparecendo diante da aparição do sono forte, muito forte.

     Dormi e sonhei. Um encontro forte, muito forte. E o viver intensificado pela vida, transformou-se em enorme celebração vinda com a noite transformada em um encontro forte, muito forte.

     Acordei deixando que minha vontade fingisse um estado adormecido por uma alegria forte, muito forte. Tudo deixado em singular silencio a facilitar a extensão do sono já sem sono, mas entregue a uma alegria forte, muito forte.

     Mais tarde, já anoitecido e acordado, pensei no contraste dos acontecimentos, nem sempre expostos à luz dos fatos.

     Fiquei conversando com a esperança.

Belo Horizonte, 23 julho 1999

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

SURPREENDENTE

  SURPREENDENTE

     Cada dia é um dia, disto não tenho a menor dúvida. Mas existem dias que são tão surpreendentes que mais parecem ser outro dia. Tudo aquilo que você antes imaginou, ou planejou, simplesmente não aconteceu. O dia então ganhou outro caminho e foi seguindo pelo inesperado do inesperado numa demonstração simples e clara de que temos o comando dos nossos dias, até certo ponto. Daí pra frente é surpresa a surpreender a mais atenta das surpresas. Incrível!

Belo Horizonte, 30 dezembro 2020

UMBILICAL

     Na malícia do riso, a alegria da vontade. No trejeito do corpo, a roupa que sugere a nudez. E do corpo nu, a veste do desejo.

     No umbigo, uma intenção remetida ao ventre. Delícia que brinca com os mamilos tão sensíveis. O beijo na boca da boca que abocanha a boca dos lábios a provocarem a língua. As línguas na linguagem alucinada do beijo que busca, que suga, que brinca e que morde sem morder os dentes detidos pelo agir espontâneo do carinho.

     Aí, o mergulho que leva e traz o tempo ao tempo do gozo adiado para daqui a pouco.

Belo Horizonte, 19 julho 1999

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

SONHO PRAIANO

  SONHO PRAIANO

    Eu poderia convidá-la para darmos uma passeada pela praia, mas não posso porque estou longe demais da praia. Mas a vontade pode mexer comigo, tal como faz a praia que também parece querer que eu fique perto dela.

     Ainda não dá, mas dará para que a distância ceda espaço ao tempo do encontro, é o que espero, é o que meu sonho tem alimentado até com direito a promessa.

     Vontade danada de convidá-la para um passeio pela praia.

Belo Horizonte, 29 dezembro 2020

DESAPAREÇO

     No fundo do mar, o amor sufoca. Que mar? O mar que salga o amor. Que amor? O que inunda o mar de lágrimas.

      Sem lamentos, sem lágrimas, sem lástimas, o amor parece perdido. Enquanto isso, perdido estou eu que não encontro o caminho para estar perto dela. O mar confunde o amor a amortecer o pranto de ser eu tão só meu. Ela aparece nas ondas do tempo esbarrado no eu ido em busca da praia ela.

     No fundo do mar o amor navega. Aí, o corpo afogado pelo desejo do mergulho. Ela respira fundo. Eu desapareço.

Belo Horizonte, 07 julho 1999