AVE-DO-CÉU
Tem muito bicho estranho por aí
AVE-DO-CÉU
Penas plumas azuis da cor do céu num ninho espetacular por sua
singeleza. Estava no chão com dois ovos. Um terceiro ovo fora do ninho, a mais
ou menos um metro de distância.
Disse-me o velho ser aquele um ninho da ave-do-céu, raríssima, dificílima
de ser vista, pode-se dizer impossível. É sempre assim. Ela bota o primeiro
ovo, caminha para o ninho feito de maneira primorosa e ali deposita
sistematicamente dois ovos, cada um com dobro do tamanho de um ovo de galinha.
Pergunto abismado se ninguém pega, nenhum bicho come aqueles ovos, destrói
aquele ninho. Velho diz que do amanhecer para tarde misteriosamente ninho e
três ovos somem. Já tentaram ver testemunhar flagrar o que faz a ave-do-céu,
mas quem tentou foi encontrado em sono profundo próximo ao local antes do
ninho. E quem tentou pegar, ao menos tocar no ninho não logrou êxito. Dizem que
é só encostar nele para cair em sono pesadíssimo. Quando gajo acorda não se
lembra de nada, só sabe que viu o ninho e quando foi mexer com ele...
Belo Horizonte, 03 dezembro 2012
ANTES
OU DEPOIS?
Antes de dormir, penso no vôo do amanhã.
Ainda que o dia esteja amanhecendo, o amanhã ainda não acordou em mim. Acordo
ou sou acordado pelo amanhã?
Antes de dormir, fujo da confusão dos
pensamentos. Lembranças vindas de tantos lugares. Tento entende-las,
percebe-las melhor. Mas nem sempre consigo. Durmo ou sou adormecido pelas
lembranças?
Antes de
dormir um vôo. Estranha navegação. A saudade do mar surge em ondas muito
fortes. O céu no mar confunde o espaço das idéias. Acordo ou sou acordado pelo
mar?
Antes de dormir um mistério. Não sei se
tenho sono, ou se é o sono que me tem.
Belo Horizonte, 11
novembro 1998
Um comentário:
Gostei muito da história da ave-do-céu, Cadinho. Lembra "O Livro dos Seres Imaginários", do Jorge Luis Borges. Parabéns!
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